Uma mesa no deserto (Dezembro)




 1º.     DE       DEZEMBRO 


No meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi (...) para que conhecesseis o amor que vos consagro em grande medida.

(2 Coríntios 2.4)


Um ministério que se propõe a trazer cura e vida deve, essencialmente, ser fruto da experiência. Este fato notavelmente se manifesta no apóstolo Paulo. O ministério da Primeira Epístola aos Coríntios, por exemplo, está firmemente baseado no homem revelado a nós na segunda epístola. Em 1 Coríntios, Paulo escreve sobre a escolha de Deus das "coisas fracas" (1.27); 2 Coríntios mostra, com terrível realidade, sua própria experiência de uma fraqueza imposta por Deus. Na primeira carta, Paulo apela por unidade aos seus leitores; na segunda, mostra como, a despeito de objeções de muitos, ainda considera-se um deles. Em 1 Coríntios 13 ele oferece seu tratamento clássico sobre o amor; em 2 Coríntios 12:15, ele afirma: "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma". Por fim, I Coríntios 15 dá-nos o ensino mais claro do Novo Testamento sobre a ressurreição; contudo, 2 Coríntios deixa clara sua desesperada necessidade de confiar, em todo tempo, "no Deus que ressuscita os mortos" (1.9). Em todo aspecto, sua doutrina está respaldada pela experiência. Nenhuma outra coisa realmente constitui uma base para um ministério de Cristo.


 2       DE         DEZEMBRO 


De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a Tua palavra. (Salmo 119.9)


Os fariseus limpavam o exterior do vaso, mas, deixavam o interior cheio de impurezas. Nosso Senhor os repreendeu por dar mui- to valor às coisas exteriores e ignorar o interior, e muitos de nós concluímos, com isso, que, uma vez que damos ênfase à natureza interna da verdade espiritual, tudo fica bem. Contudo, Deus exige pureza interior e exterior. Ter a pureza exterior sem a interior é morte espiritual; entretanto, ter a pureza interior sem a exterior é ter uma vida apenas espiritualizada. Pois, ignorar coisas por espiritualizá-las não é espiritualidade. "Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!" (Mt 23.23). Não importa o quanto a ordenança divina pareça ser insignificante, trata-se de uma expressão da vontade de Deus. Jamais devemos tratá-la de modo leviano. Não podemos, impunes, negligenciar nem o menor de Seus desejos.



 3        DE        DEZEMBRO 


Sem Mim nada podeis fazer.(João 15.5)


A tentação de tentar é inerente na natureza humana. Deixe-me contar algo que vi nas salinas de meu país. Alguns trabalhadores conseguem carregar uma carga de sal com um peso de 120 quilos; outros chegam aos 250 quilos. Agora, imaginemos que apareça um homem que só consiga carregar 120 quilos, e que temos uma carga de 250 quilos. Ele sabe perfeitamente bem que a carga é muito pesada para ele, mas, embora seja possível que não consiga carregá la, ele ainda tenta. Quando mais jovem, eu costu- mava me divertir observando dez ou vinte destes trabalhadores aparecerem e tentarem levar as cargas, embora cada um deles soubesse que possivelmente não conseguiria. Por fim, eles tinham de desistir e dar espaço para aquele que poderia fazê-lo.

Quantas vezes nos lembramos do Senhor e Lhe entregamos a tarefa para qual Ele está apto e pronto para realizar só quando estamos em total desespero com nós mesmos! Quanto mais cedo fizermos isto, melhor será, pois, enquanto monopolizamos a situação, deixamos pouco espaço para a poderosa atuação do Espírito.



4     DE     DEZEMBRO 


Cristo Jesus, O qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.

(1 Coríntios 1.30)


Deus deu-nos Cristo. Nada temos a receber agora fora Dele. O Espírito Santo foi enviado para gerar em nós aquilo que é de Cristo, e não algo que esteja à parte ou fora Dele. Ele "se nos tornou". Essa é uma das maiores declarações das Escrituras. Se cremos nisto, podemos incluir nela qualquer coisa de que precisamos e saber que Deus foi bem sucedido ao fazer isso; pois, pelo Espírito Santo em nós, o Se- nhor Jesus se nos tornou tudo o que nos falta. Fomos acostumados a considerar a santidade como uma virtude, a humildade como uma graça, o amor como um dom - coisas a serem buscadas em Deus. Mas o Cristo de Deus é, Ele mesmo, tudo de que necessitamos. Lancemo-nos sobre Ele sem hesitação.!


5      DE    DEZEMBRO 


Assim fizeram e já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes. Aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor!

(João 21.6, 7)


É estranho que, enquanto Jesus estava na praia, nenhum deles O reconheceu; nem mesmo Pedro e João que foram os mais intimos Dele, nem Tomé que, an- eriormente, O identificou por Suas feridas. O Senhor ressurreto não devia ser reconhecido meramente pelos olhos humanos, nem pelas mãos da carne. Mesmo quando falou-lhes de coisas familiares, eles ainda não O reconheceram. Contudo, quando a rede ficou cheia, João de repente o soube. Mais tarde, quando, na praia, Jesus disse: "Vinde, comei" (v. 12), nenhum deles, segundo a Bíblia, teve a ousadia de perguntar-Lhe: "Quem és tu?", sabendo que era o Senhor. Aqui há um paradoxo. Normalmente, se fazemos uma pergunta é porque ela implica em uma falta de conhecimento; se não ousamos perguntar é porque a pergunta sugere um temor de mostrar esta falta. Contudo, aqui temos temor e conhecimento. Com o homem exterior eles temiam, mas com o homem interior eles conheciam. Muitas vezes, não podemos explicar, contudo, há uma convicção interior concedida por Deus. Isto é fé cristã.


6      DE       DEZEMBRO 


Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. (Filipenses4.13 )


Hoje, na obra de Deus, as coisas muitas vezes estão tão estabelecidas que não temos necessidade de recorrer a Deus. Contudo, o veredicto de Deus sobre toda esta obra é inflexível: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5). Pois, a obra divina só pode ser realizada com o poder divino, e este poder somente é encontrado no Senhor Jesus. Quando che- gamos ao ponto de dizer como o profeta: "Nem posso falar" (Sl 77.4) é que descobrimos que Deus está falando. Ele nunca nos pede para fazer algo que podemos fazer. Pede-nos para que levemos uma vida que jamais levamos e realizemos uma obra que jamais pudemos fazer. Contudo, por Sua graça, estamos levando esta vida e realizando esta obra. A vida que levamos é a vida de Cristo vivida no poder de Deus e a obra que realizamos é a obra de Cristo efetuada por nosso intermédio pelo Seu Espírito, a quem obedecemos.


 7         DE        DEZEMBRO 


E, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus!(João 1.36)


Quando anunciou Cristo pela primeira vez como o Cordeiro de Deus, João Batista acrescentou: "Que tira o pecado do mundo!" (v. 29), com isso, enfatizando Sua obra redentora. Na segunda vez, entretanto, ele simplesmente disse: "Eis o Cordeiro de Deus!". Aqui, a ênfase não recai tanto sobre a obra como sobre a Pessoa. Apreciar verda- deiramente as pessoas significa que elas são preciosas para nós pelo que são. Chegamos a amá-las mais pelo que são do que pelos seus feitos. O mesmo deve acontecer em relação ao nosso apreço por Cristo. Agradecemos ao Senhor por Suas dádivas, porém, O louvamos por Sua excelência. Cristo na cruz inspira nossa maravilhada gratidão; Cristo no trono atrai nosso louvor. Contemplamos o que Ele fez, e sentimos profunda gratidão; contemplamos o que Ele é, e O adoramos.


  8       DE         DEZEMBRO 


Bem-aventurado é aquele que não achar em Mim motivo de tropeço.(Lucas 7.23)


João Batista não gostou do que viu. Esperava um novo reavivamento como o primeiro que Elias testemunhara, e, aqui, ele estava na prisão com a iminência da morte. Se ele mesmo nada podia fazer, certamente Jesus devia fazer alguma coisa para vindicar o ministério deste segundo Elias. Escandalizamo-nos quando Deus não faz aqui- lo que pensamos que deveria fazer? Temos buscado conhecer Sua vontade e desejar somente Sua glória, e, todavia, achamos frustrantes muitos de Seus caminhos. Deparamo-nos com algum impasse e chegamos a um beco sem saída; caímos enfermos e esperávamos que Ele nos curasse, porém, não fomos curados; precisamos de dinheiro, e este não chega. Ou, o que é bem pior: existe certa questão em que a honra de Deus parece estar em jogo. Ele devia atuar por amor de Seu nome - e, não obstante, Ele não o faz. A situação não muda, as portas da prisão não se abrem, os corações não se comovem, ninguém clama: "Senhores, que devo fazer?". Haverá um dia em que tudo será explicado. Quando estivermos diante do tribunal de Deus, não apenas seremos julgados; Deus irá explicar-nos as coisas. Em muitas delas, será provado que estávamos errados, mas, haverá muitas coisas sobre as quais Ele dirá: "Eu estava certo, mas você também estava".


   9         DE         DEZEMBRO 


Também vós deveis lavar os pés uns dos outros João 13.14)


lavar aqui refere-se ao refrigério; não está relacionado ao pecado. Ao contrário do peca- do, a poeira e a sujeira que se acumulam nos nossos pés são inevitáveis. Certamente, rolar na poeira seria pecado, mas, se tocarmos na ter- ra, nossos pés ficarão empoeirados. Um irmão que trabalha várias horas em um escritório chega em casa no final do dia cansado e alheio às coisas espirituais. Ele acha difícil restabelecer o refrigério da comunhão com seu Senhor, o qual teve nos momentos tranquilos de sua manhã. Há uma camada que o impossibilita de erguer-se para o Senhor neste momento.

Contudo, um amigo encontra-se com ele e, de forma bastante espontânea, louva ao Senhor. No mesmo instante, ele sente um poder que o levanta. É como se alguém tivesse pego um espanador e tirado aquela camada. Seus pés ficam limpos mais uma vez. "Lavar os pés uns dos outros" é fazer com que as coisas voltem ao seu frescor original desta forma. É possível não sabermos sobre o fato de que o estamos fazendo, e, contudo, sermos constantemente usados para revigorar nossos irmãos em Cristo. Digo-lhe: este é um dos maiores ministérios.


  10      DE       DEZEMBRO 


Ele a feriu três vezes e cessou. Então, o homem de Deus se indignou muito contra ele e disse: Cinco ou seis vezes a deverias ter ferido.(2 Reis 13.18, 19)


Sempre corremos o risco de colocar limites ao que Deus pode fazer. Hoje Deus quer que nos preparemos para uma nova dispensação na obra do Evangelho, porém, definimos para Ele um alvo além do qual nossa fé não está preparada para alcançar. Não compreendemos o alvo da "flecha da vitória do Senhor" (v. 17). Nosso contentamento com as centenas de almas que vieram para Ele pode ser aquilo que as impedem de vir aos milhares. Não é possível que o enorme salão que construímos para a proclamação do Evangelho imponha um limite ao crescimento futuro? Há sempre um sério risco de restringirmos a graça de Deus. A bênção que Ele concede tem por objetivo preparar o caminho para uma bênção mai or, e nunca tornar-se um empecilho. De forma alguma, deixemos de trabalhar para levar a cabo um plano; contudo, que nos livremos de todos os obstáculos do passado e vivamos em um estado de constante expectativa. Bem diante de nós está uma obra imensamente maior do que aquela que fica para trás. Deus planeja para nós bênçãos jamais vistas.


11    DE     DEZEMBRO 


Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.(Efésios 2.8)


Falamos corretamente ao dizer que a salvação é pela fé, mas o que isso significa? Significa que somos salvos por descansar no Senhor Jesus. Nada fizemos para salvar-nos a nós mesmos; simplesmente lançamos sobre Ele o fardo de nossa alma enferma por causa do pecado. Começamos nossa vida cristã não dependendo de nossos feitos, mas do que Ele fez. Até que faça isto, o homem não será cristão; pois, dizer: "Nada posso fazer para salvar-me, mas, por Sua graça, Deus fez tudo por mim em Cristo" é dar o primeiro passo na vida de fé. Não há limite para a graça que Deus deseja a nós.


12      DE      DEZEMBRO 


[Cristo] não se envergonha de lhes chamar irmãos. (Hebreus 2.11)


No início do quarto Evangelho, o evangelista descreve Jesus como o "Unigenito do Pai". Ao final do mesmo livro, o Senhor ressurreto diz para Maria Madalena: "Vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para o meu Pai e vosso Pai" (20.17). Até este ponto deste Evangelho, Jesus falara do "Pai" ou "Meu Pai". Agora, em ressur- reição, Ele acrescenta: "E vosso Pai". Como isto é maravilhoso, pois quem agora fala é o Filho mais velho, "o Primogênito dentre os mortos". Por Sua encarnação e cruz, Ele acrescentou muitos filhos à família de Deus e, assim, no mesmo versículo, fala dos discípulos como "Meus irmãos". Louvado seja Deus que, pela exaltação de Cristo, recebemos o espírito de filiação, pelo qual agora também clama- mos: Abba, Pai! "O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16).


 13        DE       DEZEMBRO 


Pelo contrário os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários.

(1 Coríntios 12.22).


Certa vez, anos atrás, deparei-me com um terrível problema em minha vida cuja solução eu sabia que não encontraria sozinho. Eu estava pregando o evangelho na época em uma região remota, muito distante de outros servos de Deus com algum conhecimento de Sua Palavra, o qual, eu sentia, era essencial para ajudar- me a encontrar a resposta. Onde eu encontraria a comunhão de que necessitava? Havia, sem dúvida, alguns cristãos, pessoas do campo, entre os quais eu ficava, mas eles eram simples crianças em Cristo. Como poderiam ajudar-me a resolver este problema? Entretanto, cheguei a um impasse. De fato, nada restava senão pedir-lhes conselho; assim, a meu pedido, aqueles simples irmãos atenderam-me em minha necessidade. Contei-lhes o que me era possível diante de minha dificuldade, e eles oraram - e, enquanto oravam, a luz veio! Não foi preciso explicação. Tudo estava feito, feito de um modo que jamais precisaria repetir-se. Como nosso Deus se apraz em mostrar-nos nossa dependência de Seus "membros mais fracos" (1Co 12.22)!


  14       DE       DEZEMBRO 


Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.(Hebreus 10.25)


Cristo é o Cabeça da Igreja e "nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros" (Rm 12.5). Todas as relações cristãs, portanto, são de um membro para com outro nunca de uma cabeça para com os membros. Como a congregação parece um tanto espiritual quando um apóstolo prega uma grande mensagem e todos os cristãos acenam com a cabeça em sinal de concordância e acrescentam seus freqüentes e fervorosos "améns"! Entretanto, é quando os cristãos se encontram uns com os outros que seu verdadeiro estado espiritual vem à luz. O princípio "do púlpito para o banco", tão vital para a proclamação das boas-novas aos pecadores, tem a tendência, porém, de estimular a passividade na vida cristã. É pelo princípio da "mesa redonda" quanto à mutualidade, pela mútua exortação entre os cristãos, que a Igreja vive e cresce. Será que a nossa comunhão tem o verdadeiro selo do "uns aos outros" sobre ela?


15        DE         DEZEMBRO 


[Deus] resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.(2 Coríntios 4.6)


A que é salvação? É o irromper da luz divina. O apagar desta luz significa perdição. Contudo, Deus resplandeceu no coração de pessoas como nós, que estavam perecendo; e a simples visão é salvação. Somos salvos tão logo vemos a glória no rosto do Salvador. Se simplesmente entendermos a doutrina e concordarmos com ela, nada acontece, pois não vimos Aquele que é a Verdade. Entretanto, tão certo como a impressão sobre um filme se segue à abertura do obturador de uma camera fotografica, assim é o momento em que realmente O vemos como Salvador - neste momento inicia-se a transformação interior, e o que era para nós "a visão celestial" (At 26.19) torna-se, por sua vez, em "Seu Filho revelado em mim" (GI 1.16). Não há necessi dade de lembrar-nos desta viva experiência. Não há como esquecê-la.


16      DE        DEZEMBRO 


Há um ainda, pelo qual se pode consultar o Senhor, porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau. Este é Micaías, filho de Inlá.(1 Reis 22:8)


A obsessão é algo terrível. Mentir é enganar os outros, sabendo que está mentindo. Estar obcecado é enganar a si mesmo; mentir, e não saber disso; ter ido além do alcançe da consciência até a luz que está em nós ser escuridão. É, em suma, excluir a verdade. Esse estado é atingido pela simples opção pelas trevas. "Todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz" (Jo 3.19). "É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira" (2 Ts 2.11). Assim, no final, os obcecados são verdadeiros; eles chegam a crer no que estão fazendo! Saulo disse: "A mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno" (At 26.9).

Como somos libertos? Por uma coisa apenas: a luz. "Quem pratica a verdade aproxima-se da luz" (Jo 3.21). Deus não precisa de outra obra. Às vezes, perguntam-me: "Por que falar sempre de revelação? Por que não enfatizar a obra de libertação realizada por Deus?". Respondo: "Porque a revelação é a obra." Por ela, Saulo reconheceu-se como blasfemador. Por ela, Jó foi levado a dizer: "Mas agora os meus olhos Te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo" (42.5, 6). Deus faz-nos ver, e isto é suficiente


17        DE      DEZEMBRO 


Ó tu, aflita, arrojada com a tormenta e desconsolada! Eis que Eu assentarei as tuas pedras com argamassa colorida e te fundarei sobre safiras.(Isaías 54.11)


Junto com o ouro, tanto no Éden como no Paraíso, encontramos pedras preciosas (Gn 2.12; Ap 21.19). Essas pedras não se produzem em um dia. O tempo é um fator vital em sua formação. São produzidas por um longo processo nas chamas da terra, e sua beleza revela-se por meio de uma habilidosa lapidação. Em termos espirituais, isso implica valores que são produzidos no nosso intimo pela paciência divina. Esses valores custam caro. Aqueles que não estão dispostos a pagar esse preço jamais irão obtê-los. A graça é gratuita; en- tretanto, as pedras preciosas só são compradas por um alto preço. Muitas vezes, nosso desejo será clamar: "Isto custa muito caro!". Contudo, as lições que aprendemos à medida que passamos com Ele "pelo fogo e pela água" (SI 66.12) são o que realmente vale a pena. Na luz de Deus, algumas coisas perecem por si mesmas; não há necessidade de esperar pelo fogo. O verdadeiro valor está naquelas coisas que passaram no teste do tempo de Deus.


18       DE        DEZEMBRO 


Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!(Atos 3.6)


Consideremos estas palavras de Pedro para o coxo à porta do templo: Em nome. É claro que nenhum outro nome, incluindo o seu próprio, teria produzido o mesmo resultado dramático. Permita-me uma ilustração simples. Há algum tempo, um irmão que coopera comigo me enviou uma carta pedindo certa quantia de dinheiro. Li a carta, preparei aquilo que ele pedia e dei a quantia ao mensageiro. Eu agi certo? Certamente que sim. A carta trazia a assinatura de meu amigo e, para mim, isso era suficiente. Em vez disso, eu deve- ria ter perguntado ao mensageiro seu nome, idade, profissão e naturalidade e, em seguida, tê-lo manda- do de volta porque o havia desaprovado? Não, de forma alguma, pois ele tinha vindo em nome de meu amigo, e eu respeitava aquele nome.

Deus olha para Seu Filho na glória, não para nós aqui na terra, e Ele honra o nome de Seu Filho. Tudo o que aconteceu naquele dia foi resultado do impacto do nome de Jesus sobre a situação, e a única coisa que distinguia Seus servos era que eles estavam autorizados a usar este nome.


19       DE        DEZEMBRO 


Nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados.(Heb 12.15)


O favor do Senhor pode ser comparado a um pássaro selvagem que você procura atrair para uma sala. Por mais que tente, você não consegue induzi-lo a voar lá para dentro. Ele só fará isso por iniciativa própria; e, então, se o fizer, você deverá ficar atento para que ele não voe para fora novamente. Você não pode convencê-lo a entrar, mas pode facilmente fazê-lo sair. Um simples descuido de sua parte, e ele se vai! Ao abençoar-nos, é Deus quem toma a iniciativa; nenhum esforço é exigido de nossa parte. Mas quando Sua bênção foi plenamente concedi- da, basta uma pequena negligência de nossa parte para perde-la. O favor divino encontra-se onde os irmãos vivem em harmonia; nunca, como bem sabemos, onde há discórdia entre eles. Você percebe o quanto é sério estar em desavença com qualquer irmão, ainda que, uma vez considerados todos os aspectos do caso, fique provado que você está certo? A qualquer preço, preste atenção em suas palavras, para que não perca o favor do Senhor, e acorde e veja que o pássaro voou!


20    DE     DEZEMBRO 


Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que deviamos fazer.(Lucas 17.10)


Dois tipos de trabalho podem ocupar o servo nesta passagem: lavrar ou guardar o gado ambas são ocupações muito importantes. Contudo, mesmo quando ele retorna deste trabalho, Jesus lembra- nos que se espera que ele satisfaça seu mestre antes de sentar-se para desfrutar sua própria refeição. Quando retornamos de nossa labuta no campo, quer seja pregando o Evangelho para os não-salvos ou atendendo às necessidades do rebanho, estamos aptos para refletir complacentemente sobre a grande obra que realizamos! Contudo, o Senhor nos dira: "Cinge-te e serve-me" (v. 8). Sem dúvida, nós mesmos devemos comer e beber, mas não até que Sua sede seja saciada, e Sua fome, satisfeita. Também teremos nossa alegria, mas esta jamais acontecerá até que Sua alegria seja plena. Que freqüentemente perguntemos a nós mesmos: A obra que fazemos para Ele serve, antes de mais nada, para nossa satisfação ou para Sua satisfação?


21      DE       DEZEMBRO 


Não ensinará jamais cada um ao seu proximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles ao maior.(Hebreus 8.11)


Ao buscarem conhecer a vontade de Deus sob a velha aliança, os homens estavam, falando de modo genérico, restritos à lei e aos profetas. Contudo, a fé crista não está baseada em informações, mas na revelação. Você tem um conhecimento pleno de Cristo? Você O conhece apenas por ouvir falar, por assim dizer, por meio de algum verdadeiro servo Dele? Ou você está em contato direto com seu Senhor? Ter amigos que vivem próximos a Deus e que podem compartilhar conosco o que Ele lhes tem mostrado é um dos fatores mais preciosos em nossa vida cristã. Muitas vezes, precisamos de seus impressionantes desafios ou da serenidade de seus conselhos maduros. Entretanto, a nova aliança afirma que "todos Me conhecerão" (Hb 8.11), e o termo traduzido por "conhecer" significa "conhecer- Me neles mesmos". Não nos submetemos total e exclusivamente à luz que vem por intermédio de homens santos de Deus, por mais perfeita que pos- sa ser. Temos a obrigação de ouvir a voz do próprio Senhor e segui-Lo


22      DE      DEZEMBRO 


Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus.

(Efésios 4.13)


Ter uma ligação próxima e constante com pessoas cuja interpretação bíblica não corresponde à nossa é algo terrível para a carne, porém, bom para o espírito. Podemos ter pontos de vista corretos, mas Deus está nos dando a oportunidade de ter uma atitude correta; podemos crer de forma correta, mas Ele está nos testando para ver se amamos de forma correta. É fácil encher a mente de ensinos bíblicos sadios e, contudo, ter um coração privado do verdadeiro amor. Oh, pela tolerância de Cristo! Oh, pela grandeza de coração! Ai daqueles filhos de Deus que são tão zelosos pela luz que têm que imediatamente identificam como estranhos e tratam como tal todos aqueles cuja interpretação bíblica difere da deles. Deus gostaria que andássemos em amor com relação a todos os que defendem pontos de vista contrários àqueles que tanto prezamos. Nada testa tanto a espiritualidade de um mestre quanto a oposição ao seu ensino.


   23      DE        DEZEMBRO 


Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.(2 Coríntios 4.7)


É possível que esta seja a mais clara afirmação existente sobre a natureza do Cristianismo prático. Cristianismo não é o vaso de barro nem é o tesouro; é o tesouro em vasos de barro. Saber que nenhuma fraqueza humana precisa limitar o poder divino sempre deve ser um motivo de grande gratidão a Deus. De pronto pensamos no poder como a ausência do vaso de barro. Contudo, nosso bendito Senhor foi, por nossa causa, "crucificado em fraqueza" (2 Co 13.4). Não há nada de errado em sentir-se fraco. Não fomos criados para suprimir todos os sentimentos humanos até que acabemos frios como o gelo. Na realidade, os que alcançam esse estado são uma pressão constante sobre aqueles que estão à sua volta, os quais devem, de alguma maneira, compensar a deficiência de afeição natural dos primeiros, a fim de manter os relacionamentos razoavelmente satisfeitos. Isso está errado! Devemos, em lugar disso, permitir que o Espírito de Deus faça uso de nossas emoções como bem entender. Sem dúvida, Ele deve estar no controle. Sem dúvida, precisamos ter o tesouro divino - sim, mas não numa geladeira.


24 DE DEZEMBRO 


Como hei de eu por isto diante de cem homens?

(2 Reis 4.43)


A fé é um dos fatores mais importantes no serviço a Deus, pois, sem ela, nenhuma obra verdadeiramente espiritual é possível. Contudo, nossa fé exige instrução e fortalecimento, e as necessidades materiais são um dos meios usados por Deus para este fim. Não é difícil professar a fé em Deus em relação a uma grande diversidade de coisas intangíveis. Podemos até enganar a nós mesmos nesse sentido, simplesmente porque não há nada concreto para demonstrar o quanto somos carentes de fé. Entretanto, quando o assunto é necessidade financeira, comida e bebida e dinheiro vivo, a questão é tão prática que a realidade de nossa e fé é, no mesmo instante, colocada à prova. Se não podemos confiar que Deus suprirá as necessidades temporais da obra, que proveito há em falar sobre suas necessidades espirituais? Proclamamos aos outros que Deus é o Deus vivo. Que provemos a realidade de Sua vida na esfera pratica das coisas materiais. Nada melhor do que isso para criar em nós a confiança Nele de que, certamente, iremos precisar quando aquelas outras exigências espirituais chegarem.


25       DE      DEZEMBRO 


Prostrando-se, O adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-Lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra.(Mateus 2.11)


Mateus é o Evangelho do Rei. "Vie- mos para adorá-Lo" (2.2), disseram os magos do Oriente e, com isso, no início, estabeleceram o que era Seu direito, pois a adoração é tudo. Quanto mais adoramos, mais razões Deus nos dará para fazê-lo. Antes de orar, vamos adorar; durante a pregação, que adoremos; em todas as coisas, apresentemos um coração que O adora. Esta é a obra da Igreja na terra hoje: estabelecer a adoração de Deus. A menos que Lhe demos isso, Deus não terá adoração neste mundo. É claro que não devemos negligenciar outras obras, mas que sempre demos a adoração o primeiro lugar. Os magos abriram-Lhe seus tesouros. Como podemos reter alguma coisa? E o que oferecemos tem de ser incenso, e não perfume: o incenso que deve ser totalmente queimado no altar do incenso antes que sua fragrância seja liberada. Isso é verdadeira adoração, e nossos são os dias em que o Pai procura verdadeiros adoradores.


  26       DE        DEZEMBRO 


Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu filho, nascido de mulher.(Gálatas 4.4)


Quando Jesus nasceu, Israel era uma nação escrava; a grandeza do reino não passava de lembrança e o povo de Deus pagava tributo a César. Eram os dias de Augusto, e Roma governava o mundo. Contudo, a despeito das apa rências, Jesus nasceu na plenitude do tempo. Tudo estava preparado. O Evangelho de Cristo era para todos os homens, não podia ser confinado a uma pequena nação. Portanto, Deus permitiu que Roma absorvesse o mundo e que Jesus fosse crucificado no império romano numa cruz romana.

As comunicações de Roma eram boas, seus navios e estradas iam para todas as partes. Os ju- deus podiam vir para Jerusalém no Pentecostes, ouvir o Evangelho e levá-lo para casa sem atravessar fronteiras hostis pelo país. Já que Roma governava, os apóstolos podiam viajar livremente de cidade em cidade dentro do império, falando a respeito do Sal- vador. O livro de Atos revela a neutralidade e imparcialidade das autoridades seculares. Roma é com- parada na Bíblia a uma besta selvagem, mas Deus, que fecha a boca dos leões, a subjugara para servir- Lhe de instrumento. O que Ele fecha, nenhum ho- mem abre; o que Ele abre, nenhum homem fecha.


27        DE       DEZEMBRO 


Ao redor do trono, há um arco-íris.(Apocalipse 4.3)


Todas as visões nos capítulos 4 a 11 de Apocalipse estão relacionadas ao trono de Deus (4.2); aquelas encontradas nos capítulos 12 a 22 relacionam-se ao templo de Deus (11.19). No início da primeira seção, vemos um arco-íris ao redor do trono; no início da segunda, vemos a arca da aliança em Seu templo. O trono de Deus está estabelecido para governar o universo. O arco-íris, que rodeia todo o trono, é Seu testemunho para o universo de que, em todas as Suas relações administrativas, Aquele que se assenta no trono sempre permanecerá fiel à Sua aliança com a humanidade. O templo de Deus é estabelecido como uma habitação para Ele mesmo. A presença da arca de Sua aliança no templo, há muito perdida pela infidelidade de Israel como o centro de sua vida como nação, é o testemunho de Deus para Si mesmo. Ela garante que, apesar de fiel à sua natureza, o que prometeu a Si mesmo com relação ao povo de Sua aliança, Ele certamente fará. Ele não pode negar-se a Si mesmo. Em Cristo, Sua fidelidade é garantida - e nós estamos Nele.


 28        DE          DEZEMBRO 


Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a petição que eu Lhe fizera. Pelo que também o trago como devolvido ao SENHOR.

(1 Samuel 1.27, 28)


Você percebe duas frases aqui? Para mim, elas são extremamente preciosas. Leia-as juntas: "O Senhor me concedeu (...) o trago como devolvido ao Senhor". Em sua tristeza, Ana clamou a Deus por um filho, e seu pedido foi atendido. Que resposta à oração supera esta? Todo seu pedido se resumia neste menino. Contudo, agora, ao receber o que desejava, ela o devolveu ao Doador. E quando Samuel saiu de suas mãos, as Escrituras dizem que "eles adoraram ali ao Senhor" (v. 28). Quando chegar-me o dia, como aconteceu com Ana, em que meu Samuel, em quem todas as minhas esperanças estão centradas, sair de minhas mãos e passar para as mãos de Deus, então, saberei o que realmente significa adora-Lo, pois adoração é uma consequência da cruz, onde Deus é tudo em todos. Quando são tiradas de nossas mãos todas as coisas que consideramos de valor e o foco de nós mesmos para Deus - isso é adoração.



29     DE          DEZEMBRO 

Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas, mostra-me o rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce e o teu rosto, amável.(Cântico dos Cânticos 2.14)


Como muitas vezes achamos difícil colocarmo-nos na presença do Senhor! Evitamos a solidão e, até quando nos desprendemos fisicamente de coisas exteriores, nossos pensamentos ainda continuam a devanear nelas. Muitos de nós podem gostar de trabalhar entre outras pessoas, mas quantos podem aproximar-se de Deus no Santo dos Santos? Entrar em sua presença e ajoelhar-se diante Dele por uma hora exige toda a força que possuímos. Temos de ser severos com nós mesmos para fazê-lo. Contudo, todo aquele que serve ao Senhor conhece o precioso valor destes momentos, a doçura de acordar à meia-noite e passar uma hora com Ele ou acordar cedo de manhã e levantar-se para passar uma hora em oração. Deixe-me ser bem franco com você: você não pode servir a Deus à distância. Apenas aprendendo a aproximar-se Dele é que você pode saber o que é realmente servi-Lo.


 30     DE          DEZEMBRO 


De boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar.(2 Coríntios 12:15)


Certa vez, após longas lidas no Evangelho, re- gressei exausto para minha cidade natal. Um dia, eu estava caminhando pela rua com uma bengala - muito fraco e com a saúde debilitada -, quando encontrei um de meus antigos professores de faculdade. Ele me levou a uma casa de chá, onde nos sentamos. Olhou para mim e, então, disse: "Veja uma coisa: durante seus dias de faculdade, pensamos alto a seu respeito. Tínhamos uma grande esperança de que você realizaria algo grandioso. Você quer me dizer que se tornou isto?". Ao ouvir essa pergunta direta, tenho de confessar que a primeira coisa que desejei foi sucumbir e chorar. Minha carreira, minha saúde, tudo se fora, e aqui estava meu antigo professor a perguntar: "Você ainda está onde estava, sem sucesso, sem progresso, sem nada para mostrar?". Contudo, no momento seguinte, eu realmente soube o que era ter o Espírito de glória repousando sobre mim. A idéia de ser capaz de derramar minha vida para meu Senhor literalmente inundou minha alma de glória. Pude erguer os olhos em silêncio e dizer: "Senhor, eu Te louvo! Esta é a melhor coisa possível; é o caminho certo que escolhi!"


31      DE         DEZEMBRO 


Na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o designio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais.

(Atos 13.36)


Davi serviu em uma geração: a sua. Não podia servir em duas! Onde hoje tentamos perpetuar nossa obra, estabelecendo uma organização, uma sociedade ou um sistema, os santos do Antigo Testamento serviam em seus próprios dias e se foram. Esse é um importante princípio de vida. O trigo é semeado, cresce, cria espiga, é colhido e, então, toda a planta é arrancada até a raiz. A obra de Deus é espiritual até o ponto de não ter raiz alguma na terra nem cheiro de terra nela. Os homens passam, mas o Senhor permanece. Tudo o que tem a ver com a Igreja deve ser atual e vivo, apropriado ao presente - pode-se até dizer: às necessidades passageiras do momento. Nunca deve ser fixo, mundano, estático. O próprio Deus leva Seus servos, mas dá outros. Nossa obra sofre, mas a Dele, nunca. Nada O toca. Ele ainda é Deus.


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